Saímos.
E partimos pra onde?
Sem alvo a gente se projeta.
Sem alvo a gente se protege.
Cuidando do instante
Cultuando o durante
Costurando os desejos, nossos remendos.
Sem destino para não enxergar onde daremos.
Este nosso elã, dosado
para evitar perdições,
mas feito tecido que envolve,
move, absorve, absolve;
Transmuta tolices:
faz um boteco da igrejinha,
da espera-na-fila um grande circo,
do tatame um espaço pra risos.
Altera o meu domínio
Enquanto os corpos interagem
no improviso, espécie de descoberta
de um outro tipo de comunicação.
E como falam bem os nossos corpos.
Tateiam o inevitável impulso,
aprendendo este novo idioma. Conversa sinestésica.
Som traduzido em Gosto traduzido em Cheiro
Transa de ideias.
Trama não encerrada no gozo.
Espécie de paixão que é privilégio pra memória
Que tinge o depois
sem tanger o futuro.
Que se perpetua no presente.
Que me acompanha nos melhores pensamentos.
Que gosta de estar.
Que fica e finca.
4.12.17
27.10.17
Paixão. Este novo tipo de crime
Passam. Passion. Paixão.
Crime mútuo entre os envolvidos
Paixão. Passion. Passam.
Então há culpa no sentir?
ou há culpa em querer sentir?
Vejo o desejo botar a ética pra dormir
para provar da solitude; da plenitude.
Nesses jogos conjugais
já assumi todos os papéis
E após tantas temporadas em cartaz,
revezando-me entre todos eles,
escolho o quem mais gosto-de-não-ser, para também
ser um pouco do meu oposto.
pois o hoje de ser eu,
as 3h da tarde no universo,
já não me cabe como sempre.
Crias um roteiro, um rodeio? Enaltece orgulhos,
garimpa belezas e lapida nas descrições.
Vence sempre pela carência.
De ambos
Passam. Passion. Paixão.
Crime mútuo entre os envolvidos
Paixão. Passion. Passam.
Então há culpa no sentir?
ou há culpa em querer sentir?
Vejo o desejo botar a ética pra dormir
para provar da solitude; da plenitude.
Nesses jogos conjugais
já assumi todos os papéis
E após tantas temporadas em cartaz,
revezando-me entre todos eles,
escolho o quem mais gosto-de-não-ser, para também
ser um pouco do meu oposto.
pois o hoje de ser eu,
as 3h da tarde no universo,
já não me cabe como sempre.
Crias um roteiro, um rodeio? Enaltece orgulhos,
garimpa belezas e lapida nas descrições.
Vence sempre pela carência.
De ambos
14.8.17
Do árabe: Miskin
Anti atalho, sou o quanto falo
sou o ato falho
e exibo o talo
do meus pensamentos.
Ante o trago, eu travo
e grato,
não tardo se eu não trago.
Se há troça na troca,
escapa o teu trato no tato.
Certezas me cerceiam
tanto quanto
dizeres me desnudam.
sou o ato falho
e exibo o talo
do meus pensamentos.
Ante o trago, eu travo
e grato,
não tardo se eu não trago.
Se há troça na troca,
escapa o teu trato no tato.
Certezas me cerceiam
tanto quanto
dizeres me desnudam.
11.8.17
Gosto
Saboreio o infinito
percorrendo seu sabor por toda a boca.
Deixando que a tome o expansivo amargo
que possui todas as recentes e boas bebidas.
Aquelas que modificam a textura do palato.
Provo das menores picâncias.
Como para não sanar. Apeteço com o infinito
sem abrir mão das volumosas guarnições temporais.
É como provar da bebida cara, rara,
que após tantos anos guardada, provoca
o estupor que sempre lhe coubera.
Desengarrafo-me.
Tim-Tim!
percorrendo seu sabor por toda a boca.
Deixando que a tome o expansivo amargo
que possui todas as recentes e boas bebidas.
Aquelas que modificam a textura do palato.
Provo das menores picâncias.
Como para não sanar. Apeteço com o infinito
sem abrir mão das volumosas guarnições temporais.
É como provar da bebida cara, rara,
que após tantos anos guardada, provoca
o estupor que sempre lhe coubera.
Desengarrafo-me.
Tim-Tim!
11.6.17
Ator do Ato
Sobem ao palco os atores. O enredo é desconhecido do público. É noite de estréia!
De imediato, percebe-se que o elenco jamais contracenara junto. Uma espécie de amadorismo deixava a todos da platéia com aguçada atenção. Até as pausas para respiração eram interpretadas, mas não era possível saber se os detalhes estavam ensaiados ou eram gestos distraídos. A peça realmente confundia os ansiosos por desfecho.
No segundo ato a iluminação contribuiu para o mesmo. Aquela que parecia a personagem principal era muito mal iluminada para tal. Ficava muito na penumbra. Seu ombro era mais visível que as expressões faciais. As luzes acendiam e apagavam, direcionando os olhares e permitindo que se entendesse o que quisesse, o que causava ainda mais confusão. Não houve diálogos. O único som que se ouvia era um pequeno estalo dos interruptores ao fundo, que faziam atores e atrizes sumirem e surgirem. E quando a vista já cansava por tamanha movimentação dos olhos: Escuro!
Uma voz no centro do palco anunciou “Sou EU! quem ela quer”. Outras vozes responderam após um pequeno intervalo “E o que você quer?” “Por ainda não saber, quero que ela não queira”. A confusão no enredo se desenrolava sem nenhum constrangimento, mas aquela cena no escuro - ou a falta dela - dava a impressão de falha técnica. Um cheiro de borracha queimada invadia as últimas fileiras.
Mas era bem possível que aquela coisa mal arranjada fosse ensaiada. Quem é que sabe?! Um novo estrondo no interruptor fez acender apenas uma luz, iluminando o local de onde saíra a voz. Não havia ninguém. Um tablado iluminado encerrou o ato.
O restante do espetáculo prosseguiu com essa precária iluminação. Os atores, talvez para disfarçar atuações, davam o texto no escuro. Era uma peça ousada que não se sabia bem se chegaria onde desejava.
A partir do terceiro ato aumentava a vontade de abandonar as tentativas de entendimento e de curiosidade sobre o resultado daquilo tudo, a poltrona parecia não se encaixar mais nas costas, aquele breu sufocava os sentidos. Faltava autenticidade na volúpia e veracidade no desejo. Faltava convencimento nas palavras ditas e coragem para os atores. Faltavam peças para entender e sobrava vontade.
Os portões da rua irromperam trazendo ar aos pulmões. A peça seguia com cada vez menos público. Sobraria algum ao final? Poderia algum ator descer e passar-se por platéia por necessidade de preencher cadeiras, por necessidade de espetacularizar o íntimo, por trazer notoriedade ao banal? Jamais saberei. A rua me atraiu por ser inteligível. Desejava tatear o prático.
O fim do espetáculo sucedeu sem que eu o presenciasse. O meu entremeio prosseguiu sob leve interferência daquele enredo. Com um novo incômodo como herança, um pensamento de fundo, constante e discreto, que já me direcionava mesmo que não percebesse.
Espécie de sorte que randomiza o juízo para reinventar a ética que absolve futuras e inevitáveis escolhas.
14.5.17
Desejo
Pretensões exasperam. Asperam o agora.
Não esperam.
Projetar e desejar é consentir que o hoje escape.
É como não aproveitar o que está posto,
é como dispensar a janta pela sobremesa estando com fome.
O paraíso é horizonte que nos persegue.
Eis um conselho antigo sobre o futuro:
“Abra mão do hoje pelo depois. O futuro: O que importa!
Esta vida é passagem,
faça dela uma porta de entrada para o reino-dos-céus
lugar onde não haverá sofrimento e nem dor.”
Desconfio.
Onde não há dor nem sofrimento, haverá espaço para amar?
Com quem desejou estar hoje?
Pretender nos toma o presente.
O futuro é um adorno do real.
O desejo só é desejo se inalcançável?
19.2.17
Cortéja
Penso diferente de você
e isto nos difere. Não deveria ferir
Edifiquei-me mirando sempre o que eu ainda não era
Sou eterna continuidade díspar de mim
Acolho as discordâncias para crescer
Transformar é criar, é romper com os moldes
É arte
E refletir com erros é permitir que outros sejam diferentes
É necessário que alguém pense diferente de mim
e isto nos difere. Não deveria ferir
Edifiquei-me mirando sempre o que eu ainda não era
Sou eterna continuidade díspar de mim
Acolho as discordâncias para crescer
Transformar é criar, é romper com os moldes
É arte
E refletir com erros é permitir que outros sejam diferentes
É necessário que alguém pense diferente de mim
30.1.17
Retinta
O grave retinto marca, anuncia
o repique repelique dos tambores, dos prazeres, dos gingados
é cor, é suor, é destino, é raça, é ode
é onde desaguam, desatam tantos dizeres
é quando o corpo cala o mundo para poder dançar
Energia vital e retumbante
que transforma tudo em corrente, atraente
beleza negra, fértil e intocada em respeito às liberdades
a menina sambou leve feito o vento
abandonou seus abandonos e sorriu
quis ser levada como nada
e acolhida como única, que és
beleza que não se encerra, que vela a madrugada
que me desperta pela manhã, que fica na memória como retina queimada pela luz
em tudo se reflete
e agora toda besteira é desculpa para abrir um riso
há um riso em todo canto
O dia clareou e a harmonia do samba continua a soar, a rebater, a sacudir o novo rumo ao pretensioso inesperado
10.1.17
Barra
O verde-mastro dos galhos abriga vidas escaldantes.
Dias em fornalhas, fermentando fornalhas
ou cede ou foge.
Enquanto o vento quente rasga abrindo sulcos, forçando
o morno a ferver
o sério a embriagar,
o clérigo a endiabrar
e o esquivo a acontecer.
Não há meio-termo com tanto calor.
A flor da pele escorre o mel.
Os olhos belos escondem tantos futuros.
Tomar o breu do céu
como quem aprecia seu ébrio teor no fundo da boca, sem pressa.
Ondas que colidem, que harmonizam.
Perpetuam intensidades. Guardado
onde a memória não é precisa, pois não é preciso.
Peito carregado de escárnios, escarro!
Respiração fraudulenta,
exausta por tentar afrouxar tantos ideias.
onde, por tamanha simplicidade, não sobem bandeiras.
Certeira e desconexa realidade.
Apreciando o absurdo, o inexato,deparei-me com a origem.
Cais de difícil acesso, de retorno arredio
mas de natureza estonteante,
ameaçadoramente imensa
e involuntariamente convidativa.
Dias em fornalhas, fermentando fornalhas
ou cede ou foge.
Enquanto o vento quente rasga abrindo sulcos, forçando
o morno a ferver
o sério a embriagar,
o clérigo a endiabrar
e o esquivo a acontecer.
Não há meio-termo com tanto calor.
A flor da pele escorre o mel.
Os olhos belos escondem tantos futuros.
Tomar o breu do céu
como quem aprecia seu ébrio teor no fundo da boca, sem pressa.
Ondas que colidem, que harmonizam.
Perpetuam intensidades. Guardado
onde a memória não é precisa, pois não é preciso.
Peito carregado de escárnios, escarro!
Respiração fraudulenta,
exausta por tentar afrouxar tantos ideias.
onde, por tamanha simplicidade, não sobem bandeiras.
Certeira e desconexa realidade.
Apreciando o absurdo, o inexato,deparei-me com a origem.
Cais de difícil acesso, de retorno arredio
mas de natureza estonteante,
ameaçadoramente imensa
e involuntariamente convidativa.
Fuga
Os beijos bons
não fazem do ereto projeções.
O rijo tem prazo, tem instantes para acontecer.
Cabem muito mais loucuras num olhar quase desvendado?
Fui traído pela minha liberdade.
não fazem do ereto projeções.
O rijo tem prazo, tem instantes para acontecer.
Cabem muito mais loucuras num olhar quase desvendado?
Fui traído pela minha liberdade.
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