A vida bruta.
A soma de todos os pormenores não é armazenada pela memória.
Portanto a vida bruta não é igual a memória bruta.
O nosso natural amadurecimento é prova
De que não esquecemos de tudo que vivemos.
Mas a memória reduz as dimensões da vida.
As horas idênticas se aglutinam
E as rotinas passam a ter, para a memória, a duração de um único e longo dia.
Uma redução cabível à nossa capacidade, uma adaptação às nossas limitações.
Não há esquecimento por nossa parte
Apenas há-a-não necessidade de lembrarmos de todas as repetições
E/ou uma falta de habilidade para distiguirmos horas tão semelhantes.
Por isso damos importância aos pormenores.
Os detalhes ganham enorme encantamento.
Não lembrar da união cronológica dos nossos segundos até a idade atual é doença que traz vida.
Apesar da intensidade do não-vivido
Sabemos que haverá um descarte natural da maioria dos próximos momentos
Por conseguinte, valorizamos o que ainda não se viveu.
As próximas horas serão mais importantes do que os zilhares de segundos que já consumimos.
Tento compreender o que foi retido para consumir o inabitável.