30.7.12

Qual a palavra?

Se souber, estará livre.

Todas escondem algo

Todos se escondem
Exceto eu e meu macaco; Meu interno confidente.
Despejo-lhe minhas amadas - Que querem ser amantes, mas não sabem dançar
Aborto todos os sacrifícios que, se somados, tornam-se a maioria
Incluo minhas desistências e excessos

Se é que excedi...
Sexy Sadie...

Faz-me esquecer que nasci
Quando está presente transforma o agora em desconhecido
Cria um novo tempo verbal

Surpreende-me:
Apesar d’ eu já conseguir prever seus próximos movimentos
Você consegue! Apenas você... ainda... consegue?

E o fim que nos preservou de um possível desgaste
Não induz ao resgate do que poderíamos ter sido
Sim! Um encerramento saudoso. Sem lástimas

Mãos feitas... laçadas... lindas unhas sem vaidades coloridas

Corpos nus a descansar juntos.
Deitados

Feito dois enfermos a espera de uma doença que justifique a deliciosa indisposição que nos tomara

Mas não me sinto completamente seguro
Quero perder o medo de lhe repetir

Embora as vezes eu ainda o sinta
Apesar de eu ainda evitar levantar descalço da cama

Os pés gelados sem tua repreensão, que falta me fazem?
Nenhuma! Já preencheram – e sem lacunas! - os momentos findados
E minhas atuais memórias são maiores que todos os passados

Lembranças. Recordo ações:
Apenas o conforto,
sua despretensiosa respiração no meu pescoço
e o teto mal iluminado.

Apenas Nós


e o mundo que nos esperava do lado de fora.


24.7.12

Murmúrio

E quando voltou não era mais o mesmo

Aquela barba dava-lhe aspectos rudes
O olhar sereno e triste deram-lhe o que todos evitaram ver
Tentou preservar-se de suas lembranças, mas elas o puniram

Voltou; E arrastar-se até aqui fora pungente
Dor que aumenta infimamente a cada tomada de ar
Mas tal inofensividade se demonstrou avassaladora
Ao ponto de espremer a consciência
na luta por espaço. Não cabem mais em si

A pele amarelada roubava-lhe a aparência saudável
As deformidades na face exprimiam-lhe chagas
Carregava consigo todas as curas descobertas
Conflitos que o regeneram
São lhe exibidos em forma de alarme

A voz rouca soa feito um rugido
Rouquidão causada por excessos de silêncio
Acúmulo de palavras nas cordas vocais
Palavras com prazo vencido

Som calcificado após tantos não-ditos
Expressa-se agora em tom inaudível

Mas suas palavras ainda fortes
São ouvidas com estranha cordialidade
E com um profundo respeito por tudo aquilo
que não se consegue mais escutar

17.7.12

Cinza

Cinza é a cor do dia que não acontece,
Que esfria, não prospera, não vinga
Não atinge, não há procura

Dia sem ganância, sem nuância.

Dia estancado
Como cinzas num cinzeiro
De uma vida fumada e que já se apagou.

12.7.12

Pessoas

Coisas que ficam.
Os segundos que se compartilham
Podem conter semelhanças
Mas nunca os mesmos pontos sentidos

Coisas com ar de vitalidade e com uma arrogante pretensão de se fixarem eternamente.
A insistência do tempo leva tudo ao desvínculo
Destronando os amores absolutistas

Eu possuo a mudança
Posso-me e apoço-me por isso

As mudanças em seus vasilhames
Distribuem-se nas prateleiras
Quero inverter o que está ao meu alcance
Mas os potes guardados embaixo
Referem-se apenas a caminhos e não a pontos de chegada

Mas a cada resposta dada sem a certeza necessária
A cada situação em que me conformo,
                                em que me adapto,
A prateleira eleva-se

Obrigo-me a vestir asas
Toco os potes mais altos

Leio em alguns rótulos:
Questões aprofundadas e sem respostas
Liberdades algemadas e almejadas
Frases impacientes e impactantes

No labirinto de mim, achei-a antes de me encontrar.

Contida em regiões cutâneas

2.7.12

Ponto

A luz que entrava fazia das cortinas claras quase transparentes.
Ao sentar-se na cama percebeu, como paisagem disponível, a ponta de um telhado vizinho e um imenso céu num tom azul-absoluto, mas abdicou de tal vista quando Beltia adentrou e compartilhou espaço no colchão.
 - Não te expulsei da cama. Sente aqui! – disse ela
Eu, ainda no chão, observava calado os dois móveis rústicos e lustrados que completavam o pequeno quarto em que estávamos. Sentou-se à minha frente e examinou-me em silêncio.
- Não gostou? – Perguntou-me
- Do quê?
- Do meu quarto. Já que olhou cada canto deste recanto por que não me diz o que achou?
- Como posso dizer?... É claro que gostei... Mas... o achei um tanto pequeno, sabe?
- Pequeno para quê? Nós dois não cabemos nele?
- Sim... Mas não foi isto...
- E além de nós – interrompeu-me - também não está aqui o que sentimos? E os sentimentos que mal cabem em nossos corpos e que ainda assim é abrigado por este pequeno quarto? Onde também coube o que transbordou hoje e o que nos escapou dias atrás...
- Neste quarto cabem vidas inteiras. Tem razão... ele é imenso.

- E você? Gostou? - Perguntei
- Adorei!
- Adorou o quê? Não sabe nem ao que me referi...
- E nem pretendo saber... Adoro a vida e tudo o que nela está.
- Que bom! Então já se encontrou?
- Não, mas sempre que procuro me acho um pouco.
- Dentro de dois anos estará completa!
- Se me ajudar, alcanço o Todo em dois dias.
- Aceito! Mostro-te o caminho que conheço e depois vamos à minha procura...
- Depois, depois... Vamos despistar o depois e interrogar o hoje jogando a luz mais forte na cara...
- O que acha que nos revelará?
- Não importa Homem! Vamos acreditar em qualquer resposta bem elaborada. Verdades acreditadas têm o mesmo peso das Verdades reais.
- Então acreditaremos por racionamento de esforços? Por não aprofundar o questionar?
- Não! Acreditaremos por ansiedade de respostas. Qualquer uma serve, já te disse.
- Pois bem, se são todas aceitáveis só me resta acreditar nesta conversa.
- Só te resta me acompanhar. Todo fim é um ponto de partida e este é o seu...
- O meu fim?
- Não Homem! O seu ponto de vista da história.