Como és bela; única; agradável.
Como tu flamejas, com uma suntuosidade só sua.
Rouba minha atenção e hipnotiza-me.
Sem escolha, aproximo e estagno-me para te apreciar.
Imóvel, observo sua dança
Cintilante, sensual e provocativa.
Seu desejo por combustão me eleva ao êxtase.
Desejo-te igualmente.
Chego mais perto. Aqueço-me.
Encontro abrigo na mesma pele
Em que antes eu desqualificara.
Mas sentir seu calor penetrar em meu instante não é suficiente.
Quero ser você, quero possuí-la.
Aos teus pés permaneço estático,
Receoso e amedrontado.
Desconheço sua natureza.
Faço força para desacreditar em tudo aquilo que soubera ao seu respeito.
Como última manobra lúcida e, por que não, por autopreservação
Recolho-me.
Tento fugir das certezas que meu corpo obriga-me a pensar.
É um castigo!
Tu és tão vaidosa, valiosa – e sei que não só aos meus olhos -,
Tu és deusa.
Mas desejo-te incontrolavelmente.
Anseio acessar o Olimpo.
Ignoro os perigos desse acesso.
Há riscos.
Corro o risco?
Arrisco!
Você me queimou? Feriu-me?!
Quanto desdenho!
Ingrata! Bandida!
De nada valeram minhas adorações e devoção?
A dor é latejante.
Ardilosa! Fúnebre!
Ah! Que desejo insalubre
Que momento disforme.
E mesmo cansado do seu sarcasmo,
Entediado pela sua dança, ferido,
E mesmo depois do seu descaso
Sinto um amável conforto ao teu lado.
Sou incapaz de negar-te agora.
Meu ferimento, provocado por ti
Transformo-o em um amuleto.
É a sua marca em mim.
Será infinita perante meu cônscio vivaz.
Levar-lha-ei comigo.
Na alma, na pele, na memória.