27.6.11

Fogueira.


Como és bela; única; agradável.
Como tu flamejas, com uma suntuosidade só sua.
Rouba minha atenção e hipnotiza-me.
Sem escolha, aproximo e estagno-me para te apreciar.
Imóvel, observo sua dança
Cintilante, sensual e provocativa.

Seu desejo por combustão me eleva ao êxtase.
Desejo-te igualmente.
               
Chego mais perto. Aqueço-me.
Encontro abrigo na mesma pele
Em que antes eu desqualificara.

Mas sentir seu calor penetrar em meu instante não é suficiente.
Quero ser você, quero possuí-la.

Aos teus pés permaneço estático,
Receoso e amedrontado.
Desconheço sua natureza.
Faço força para desacreditar em tudo aquilo que soubera ao seu respeito.

Como última manobra lúcida e, por que não, por autopreservação
Recolho-me.
Tento fugir das certezas que meu corpo obriga-me a pensar.
É um castigo!

Tu és tão vaidosa, valiosa – e sei que não só aos meus olhos -, 
Tu és deusa.

Mas desejo-te incontrolavelmente.
Anseio acessar o Olimpo.
Ignoro os perigos desse acesso.

Há riscos.
Corro o risco?
Arrisco!

Você me queimou? Feriu-me?!
Quanto desdenho!
Ingrata! Bandida!
De nada valeram minhas adorações e devoção?
A dor é latejante. 
Ardilosa! Fúnebre!
Ah! Que desejo insalubre
Que momento disforme.

E mesmo cansado do seu sarcasmo,
Entediado pela sua dança, ferido,
E mesmo depois do seu descaso
Sinto um amável conforto ao teu lado.
Sou incapaz de negar-te agora.

Meu ferimento, provocado por ti
Transformo-o em um amuleto.
É a sua marca em mim.
Será infinita perante meu cônscio vivaz.
Levar-lha-ei comigo. 
Na alma, na pele, na memória.

21.6.11

Aparência

Aos poucos o alívio
E percebo alguns indícios
Que se alojam e regeneram
Pois o peso dos desperdícios
Das oportunidades perdidas
De lutas quase vencidas
Já se foram e não me afetam

E a vida metamórfica
Novamente permuta sua aparência
Parece ajustada e tranqüila
Acertar-se-á como por conseqüência
E trará uma fraqueza, que é a certeza
De que a vida não é mórbida

Mas a tal aparência
Que em nada há semelhança
E que agora se instalou
Pode ser só esperança?
Será tolice eternizar o que estou?
Quando virá minha falência?

Esperança que a tormenta
Não me faça mais presença
Pois não é minha parenta
E que nunca mais desperte
Que não remova a calmaria
Que finalmente me persegue
E não mais me afligia

A vida nos engana
Dá-nos falsas informações
Digerimo-las com lucidez
Equivocadas previsões
Apenas o velho golpe cortês
Um golpe à paisana

Trata-se da vida inexata
Irracional
Como posso compreendê-la?
Não posso!

Submeto-me aos seus caprichos
E continuo com a ilusão
De que minha perseverança
É tão forte e com tanta importância
Que se iguala a imprevisão
Dos Acasos nunca fixos

Somos fortes
Mas apenas para resistir
As desventuras impostas
As feridas expostas
O precisar existir
O que me amputa
O que não veio à passagem
Força que reluta
Não é força: é coragem.


15.6.11

Passos de um absorto

Começo a partir sem rumo. Meu destino não é importante. A incerteza do que virá não me faz receoso e tão pouco amedrontado. Pelo contrário, ela até me trás ânimo! O que me parece importante nesse momento é o oculto que existe intercalado entre a partida e a chegada. Os desvios, mudanças de trajetórias, as novas rotas criadas, iludir o presente e contar que não haja descaso do acaso para comigo. E se a minha chegada me desagradar, basta reiniciá-la.

Seguir. Seguir sozinho; em bando; em par. Seguir a mim mesmo. Seguir em frente, para os lados, desnorteado, sem preocupações de se limitar em pensar em linha reta. Somente seguir.

Mas o melhor mesmo é caminhar sem pressa, sem ansiedade. Assim encontramos a possibilidade de observarmos o que existe fora de nós. O calor do sol me dispersa e passo a pensar só nele, ali distante, longe de todos os cônscios e nossas indiferentes, perante a seu absolutismo, convicções. Vivaz e progenitor. Imperador da Via Láctea.


Acendo um cigarro e fumo. A cada trago distancio-me e trago até mim o que antes talvez fosse inalcançável. A fumaça, que reprimira em meu peito, sai agora em liberdade. Sigo caminhando lentamente, observando na fumaça os resquícios sólidos que rapidamente se transformarão integralmente em gás. O calor. Que calor!

Parar; Talvez seja esse o pior momento. Parados somos remetidos à nostalgia dos tempos em que caminhávamos. Parado começo a refletir sobre mim e quase sempre desgosto do que constato. Caio na tentação de me julgar e o faço com singular maestria.


Ah! A fatiga! Não contava com este malquerente animal. Obrigado a repousar, descanso. E de olhos fechados inicio outro caminho, com o Todo mais amplo; amplidão indescritível na língua falada. Universos sem cores definidas; sem sucesso inesperado; sem calafrios; sem o tato, somente a imaginação do mesmo. Um universo onde os sons triunfam, onde as notas destacam-se, lugar em que os acidentes viram incidentes; Paisagens atemporais.  


A diáfana pálpebra é incomodada e atrapalha-me em minha alienante absorção. Lembro-me do calor que quase esquecera. E por uma temporalidade lembro-me de coisas esquecidas por motivo nenhum. Um chute num cachorro, dor de língua queimada, leite queimado no fogão, rejeições, corizas inconvenientes, planos mal arquitetados, falhas no cabelo, chamar pelo nome errado, datas esquecidas, viagens; Caminhos. 

12.6.11

Súplica ao pensamento atrofiado

A máquina de pensamentos é algo intrigante.

Não me sinto responsável pelas idéias que surgem sem esforço algum. 
Quem, portanto, seria o verdadeiro responsável 
pelo sinal de partida 
das idéias concisas que se passam agora? Preciso entender!

Neste momento perdi a autonomia sobre meus pensamentos. 
Porém o que escrevo agora é completamente racional e consciente. Ou penso que seja. 
Entretanto, redijo sobre o tema que pretendo aniquilar dentre os meus pensamentos. 

Mas comparado com a tortura 
que é pensar sem desejar esse pensamento, 
este registro torna-se ínfimo.

E por precaução defino esta a última vez que volto a este assunto. Está decretado. Preciso esquecer!

Não tenho a quem recorrer. 
Evito pedir auxílio. 
Pois o auxílio nos dá a tola esperança de que nos ofereçam 
uma solução na qual ainda não pensamos.

Como uma relação destemperada pode ocupar tanto espaço nas minhas idéias? 

Não!!! Preciso esquecer!

Torço para que a causa de toda essa inspiração seja expelida junto com essas palavras.

Enfraqueço-me mais-e-mais a cada vez que minhas expectativas roubam meu lugar. Desvirtuo-me. Rebaixo-me à vencedora ao assumir que todas as tentativas já foram feitas e mesmo assim te incluo nos meus escritos e encontro-te em meus pensamentos.

Quero me esquecer do que não tenho. Quero não querer.
Quero a tranquilidade usurpada. É necessário que eu retorne ao meu estado original.
Quero me desvincular de todo estorvo aprisionado em mim. O ideal já não existe.