14.7.11

Sou ou não sou; eis a questão:

Sou uma parte do meu todo.
Essa é a parte que eu insisto em ser.
E quanto à outra parte que eu oculto, e que me pertence, não sou Eu?
E os pensamentos que reprimo para que não virem uma ação? Sou Eu também?

Reflito sobre o desejo de me tornar o que ainda não sou. Esse desejo faz parte dos meus planos; e por hora sou só desejo.
A impressão de viver em eterna transição misturada com a possibilidade d’eu ser o que desejo influencia, consideravelmente, no meu estado atual.
O que não sou, portanto, também é uma parte do todo?

Posso ser somente o que exercito. Posso ser uma mentira, um lugar, um ofício; posso ser Deus ou um personagem qualquer; posso ser verbo ou adjetivo.
A vida nos possibilita certa teatralidade.

Sou as minhas doenças, meus alimentos, o processo de digestão. 
Sou a carne viva, que respira; resfria. Sou o que engulo.

Serei Eu uma soma ou uma equação?
Sou o que os outros dizem e também o que desminto sobre mim.
Sou o que consigo observar nos outros. Sou o que assumo.