31.5.21

RAP : RITMO E POESIA

Nem tão seco
Nem tão pó
Nem tão cedo
Nem tampouco

Ouso: ouço o osso.

Um estampilho,
um pipoco!
Tampa de panela
encobrindo teu privado esgoto.

Árdua carga,
Pra onde vai tua descarga?

Criando alavancas pro abandono.
Cultura do cão com dono,
do limitar o próprio sonho.

Terceirizar a atitude.
Chame um messias:
"alguém acude!
meu livre-arbítrio é um açude"

O que me impede, o que me ilude
É combustível inflamável
Qualquer paixão, qualquer faísca, 
Desejo amável
Já me atiça.

Terreno incerto torto
É bom pra guia.
Neste terreno eu sou turista
Que se encanta: a nova vista.
Passado futurista.

Corpo ardente
febre desconhecida
Mesmo doente
Corpo que revida à vida

Resistência ou teimosia?
Nada se sabe dessa sorte.
Amanheço forte
pra enfraquecer o dia.

6.5.21

A lua cheia alterou minha maré
Súbito desencanto
Gozo invertido, 
ejaculação de moléculas novas
que abrigam os trajetos desconhecidos,
que me forçam a ser outro, 
que me encerra por dentro sob um bom disfarce por fora. 

Sou isso. Esse fluido escorrendo pelos novos encanamentos. 

Como continuar
se me rompi?

Chama


Até ontem nos chamávamos de Amor.
Palavra
que mais expressava hábito que sentimento.
Amor usado como substantivo,
nome paliativo,que em público
ganha tonalidades de pronome possessivo.

Amor. Palavra por impulso, sem ato reflexivo.
Resquícios das últimas usuais relações.

Fetiche da carência.
Casamento novo, apelido antigo.
Já tanto usado, renovado,
lavado e enxaguado.
Roupa desgastada. Tecido velho desfiado.

Banalizado. Palavra vazia.

Até ontem nos chamávamos.
Hoje nada.
Hoje não há palavra para nós.
O que era "Mô" virou Silêncio.
Virou.

Agora já não chamo.
Não faço uso dessa palavra.

Já não sou chamada.
Anseio atenta, na madrugada,
tarde vazia noite enrugada
manhãs solitárias
Que venha o próximo rumor
Para que eu o chame de amor
Para dar pendor
à palavra vazia

Amor:
me convença, pois a carência
já antecipa meu perdão
Fale de novo, faça juras em meu colchão
Que o eterno passa rápido demais

Meu mês

Que delícia de convite
Não hesite em refazê-lo
O que com zêlo se permite
Fazendo eterno o passageiro 

Em que leveza se consiste
dar fruição ao corpo enfermo?
Se até gotejo vira estalactite
Em bela escultura do artesão Tempo 

O comum? Não é que eu evite.
Atraio-me mais por inventar um termo
Em que o tesão não se divide
E nem se separa do sossego 

Então pergunto: Por que insiste
em repetir o destempero?
Pois este Novo mal existe
E já esquentou meu mês inteiro