Agora minhas manhãs viraram tribunal de mim.
Surpreende-me o horário. Não imaginava que os juízes começassem tão cedo.
Talvez meus sonhos me analisem.
Talvez tentem dizer algo.
Mas todas suas palavras são usadas contra mim nesta corte matinal.
Acusam-me de: VAZIO.
Há um vazio enorme em mim.
Não é abismo que permite queda.
Não é carência, vão fútil.
É um novo tipo.
Um vazio extenso feito para fluir.
Ressoar vida,
minha partícula-onda compositora de destinos.
Estou tão átomo, tão matéria, petrificado,
sólido compacto
que só mesmo um ato
de vazio,
desprezando o artesão atrito,
faz-me conflito
ao buscar meu escorrer.
Num universo expansivo
sou anexado ao mundo;
E estico minha matéria;
E mantenho
ampliado
o meu vazio.