27.2.20

Uni versos

Agora minhas manhãs viraram tribunal de mim.
Surpreende-me o horário. Não imaginava que  os juízes começassem tão cedo.

Talvez meus sonhos me analisem.

Talvez tentem dizer algo.
Mas todas suas palavras são usadas contra mim nesta corte matinal.

Acusam-me de: VAZIO.

Há um vazio enorme em mim.
Não é abismo que permite queda.
Não é carência, vão fútil.

É um novo tipo. 

Um vazio extenso feito para fluir.

Ressoar vida, 
minha partícula-onda compositora de destinos.

Estou tão átomo, tão matéria, petrificado, 

sólido compacto
que só mesmo um ato
de vazio, 
desprezando o artesão atrito,
faz-me conflito
ao buscar meu escorrer.

Num universo expansivo

sou anexado ao mundo;
E estico minha matéria; 
E mantenho 
ampliado 
o meu vazio.