26.8.12

Alien-cena-ação

Gosto de me transpor,
Exceder as fronteiras.

Simpatizo com o distanciamento da realidade.

Músicas, estudos, partidas de futebol;
Saídas, conversas, romances;
Livros, viagens, porres.

Gosto de tudo que transfere o meu domínio.

Sou apaixonado por aquilo que inventamos.

17.8.12

Sonho

O ser de pernas grandes grande corria.
Não se sabe em que chão se apoiava.

Quem descarta dúvidas
Com fé cé-ga
Será ferido

Quem confere, fere.
Com fé cé-ga
será ferido

E se põe em alto escalão
E supõe ser primazia

Pensa ter conforto, ser atrevido o convívio
Pensa ser aborto ser parecido consigo

Com fino texto, aluga-se
Consigo mesmo, diverte-se

Sou soul
Sou sonhos
E já fui eu. Juro que já fui!

A paz saudosa → Tédio
O passado se atrasou

Aspas umbrosa → Entrelinhas
O passado nos passou pra trás

Assaz jocosa  Troça
O passado nos passou a perna

Como pode haver descaso?
Se no Cáucaso que me perco
Sina, Cálculo que mereço
Se no caso me esqueço

Quanta petulância há nas fragâncias
Essências que o organismo toma para si

Quando as respostas não vêm
Não quer dizer que as perguntas se foram

O ser de pernas grandes quis esmagar
Mas errou o passo
Apagou o Sol feito uma chama de bituca

Fez-se no escuro sinceridade
Doaram-se às vontades

Enquanto ninguém observa
É que revela-se

Não sentimos falta do que não vemos
Pois a presença está onde o olho não alcança

14.8.12

De novo

Quando se perde a importância é como se descobrisse que nunca a teve.

Há dias em que me canso da vida,
Em outros melhores, ela me cansa.

Algumas repetições têm alta dosagem de tédio e conformismo

Evito a overdose advinda das adaptações

Somos ciclos que se iniciam
Sem distinguirmos ao certo quando eles se inauguram

Busco o moderno
Até que o novo caia na repetição.

Até que o abandono vire costume

13.8.12

Hágua -- HdoisÓlhos

A vida as vezes segue feito um rio
Arrastada pela imprevisível força das águas
Ora corrente, ora calma
Somos troncos encharcados pelo tempo

A inesperada mudança do vento faz com que os troncos dançem

Uns colidem, outros se afastam
Outros, ainda que fiquem à esmo nas encostas
São sugados de volta à vida

A vida prossegue com um ar indomável
Não faz cálculos ou têm preferências. 

O rio segue.
Sem matemática, sem razão que o explique
Pois a vida não é toda exatidão.
Não há esclarecimentos. Não há o que entender!

Somos tão iguais e suscetíveis em mesmo grau
que se justificar é dar valor ao desimportante, ao que indifere

Estamos sujeitos;
Próprio até se perder;
Se simples, complexo quando composto
Abstrato por receio.

Quem é o responsável pelos galhos que se prendem às encontas?
Quem assopra o vento que dá movimento à vida?
Qual o galho que não julga um direito seu apoderar-se daquele espaço de água no qual boia?

Água são correntes e não possuem lugar fixo
Como então julgar-se senhor de um pedaço de vida?

Por que as vezes parecemos obedecer apenas à própria justiça que criamos,
Que se molda e adapta conforme a necessidade?

Fazemos julgamentos e indiciamos sem remorso imediato

Mas em terra de juízes
Quem dita as regras
é a aleatóriedade do curso das águas

Por força do hábito, julgamos
E contentamo-nos com a eficiência que o fazemos

E de resto,
nada se compreende 
ou se convence

7.8.12

Letras

É na penúria das horas que ela se confunde
Perde-se por temer plantar em terrenos inférteis
Previne-se com vacinas anti-finais
Pequenosfragmentosinjetados
Não findam, mas acabam com ela.

Talvez por isso se esconda atrás de engenhosidades


– És geniosa! – ouviu-se ao fundo.

Sentado numa velha poltrona duma velha casa, estava um deles.
As paredes estavam pintadas por um mofo sem cor; tinta com cheiro forte.
Uma cadeira e uma mesa com um abajur sobre ela compunham o resto do cubículo.

Recostado e com a cabeça quase dentro do abajur, respondia:
– Causaria espantos até em um visionário.

Tem abundância; E, enquanto fala, cria.
Suas ideias formulam teias.
Mas sem caças ou venenos.
Sem presas ou qualquer coisa letal.


O outro, voltando à sala concluiu:
– Vejo que todos os presos...– Presos ?! – interrompeu o outro
– Uma vez preso - tentou mais uma vez – continuam por vontade própria.

Permanecem sem oferecer resistência.
sãosorrisosinvoluntários
são olhos que flamejam

Talvez não meça a própria grandeza.



Fazia frio, mas não entendiam o porquê de tanto incômodo.
– Ela tenta se nivelar. Já percebeu? – perguntou rindo
 – Quer fazer-se comum. – Lacônico e impaciente
Fechou-se batendo a porta do quarto.
– Enquanto todos a tem em alta estima. – disse sozinho


Busca em outras vidas
O próprio convencimento que oferece.
E por insistência, convencem-na de todo seu potencial.
Percebe-se a partir dos outros
Mas ainda assim desconfia


– Por mero descuido...
Refletiu, sem saber se ainda falava.