24.8.14

Mundo palco mundo

Esse peito com mil cortes precisa respirar.
Venha!
Saia para ver o mundo. O meu.
O seu que te espera ansiosamente do lado de fora.

Deixa-se provocar; É preciso uma nova inquietude.

Não me espere para ver o mundo,
os lugares estão ai para nos distribuirmos.

Não me áspére para haver no mundo,
não posso proteger-te dele.
Mal posso proteger-te de mim.

Tenho medo de que teu sorriso se assuste. Não sei o que espera.
Não se aguarde mais. A vida precisa vê-la.

As ruas são palcos, você bem sabe.
Mas Shakespeare já escreveu todos os amores possíveis,
Bukowski todos os desejos reprimidos
e Dostoievski...
Ah! Dostoievski é um chato que roubou todos meus escritos.

Esqueça essas palavras bem arranjadas,
todas guardadas há tempos em papéis.
Deixem-nas para os intelectuais apoiarem seus melhores argumentos,
para provarem que são mesmos incríveis por se coincidirem com as histórias.

Sejamos medíocres mortais, amando como tais.

Você precisa de uma nova dramaturgia escrita pelas tintas do acaso.

Sentir o sol esquentar a carne,
as carnes se desembrulhando na cama.
Sentir um vento gelado roçando sua nuca suada; Sentir alívios.

Sentir o cheiro da novidade sobre a grama verde.

11.8.14

Um Quarto

Faltam detalhes nesta parede. Veja(!) 

Está muito colorida de uma só cor.
Faltam respingos inesperados, sabe?

Quadros e retratos não! Já não bastam... 
Há uma séria carência nelas, percebe?
Faltam manchas, riscos entrecortados, frases ou poesias. 

Não sei, mas essa ideia me parece um tanto óbvia.
Mas falta algo, concordo... Sabe o quê, exatamente?

Talvez....mudar os móveis de lugar... 
Isso pode trazer um novo aspecto. Uma euforia diferente, ainda não experimentada.

Mesmo quando tudo se esvazia
e, ainda assim, não sobra espaço.

Suas paredes não se movem. Demarcam e impedem a expansão.
Este canto está cheio de uma pessoa só.

O teto diz que já se enjoou do seu olhar,
a parede se queixa do seu timbre de voz,
o chão está mais frio de propósito, como repulsa,
os livros se espremem na estante, evitando-te,
as cortinas clamam por um sopro de vento para bailar.

Janelas inertes, móveis se movem agitados.

Olhos procurando por todo o quarto uma saída.

Acharam uma entrada.
Um feixe de sol penetrando o casulo, iluminando o mergulho das poeiras.

De joelhos, perante o invasor, perceberam o que faltava.
Não era um quarto; Não era meio.
Muito menos inteiro.

Encaixaram o olho no filete de luz, deixaram-se cegar.