15.6.11

Passos de um absorto

Começo a partir sem rumo. Meu destino não é importante. A incerteza do que virá não me faz receoso e tão pouco amedrontado. Pelo contrário, ela até me trás ânimo! O que me parece importante nesse momento é o oculto que existe intercalado entre a partida e a chegada. Os desvios, mudanças de trajetórias, as novas rotas criadas, iludir o presente e contar que não haja descaso do acaso para comigo. E se a minha chegada me desagradar, basta reiniciá-la.

Seguir. Seguir sozinho; em bando; em par. Seguir a mim mesmo. Seguir em frente, para os lados, desnorteado, sem preocupações de se limitar em pensar em linha reta. Somente seguir.

Mas o melhor mesmo é caminhar sem pressa, sem ansiedade. Assim encontramos a possibilidade de observarmos o que existe fora de nós. O calor do sol me dispersa e passo a pensar só nele, ali distante, longe de todos os cônscios e nossas indiferentes, perante a seu absolutismo, convicções. Vivaz e progenitor. Imperador da Via Láctea.


Acendo um cigarro e fumo. A cada trago distancio-me e trago até mim o que antes talvez fosse inalcançável. A fumaça, que reprimira em meu peito, sai agora em liberdade. Sigo caminhando lentamente, observando na fumaça os resquícios sólidos que rapidamente se transformarão integralmente em gás. O calor. Que calor!

Parar; Talvez seja esse o pior momento. Parados somos remetidos à nostalgia dos tempos em que caminhávamos. Parado começo a refletir sobre mim e quase sempre desgosto do que constato. Caio na tentação de me julgar e o faço com singular maestria.


Ah! A fatiga! Não contava com este malquerente animal. Obrigado a repousar, descanso. E de olhos fechados inicio outro caminho, com o Todo mais amplo; amplidão indescritível na língua falada. Universos sem cores definidas; sem sucesso inesperado; sem calafrios; sem o tato, somente a imaginação do mesmo. Um universo onde os sons triunfam, onde as notas destacam-se, lugar em que os acidentes viram incidentes; Paisagens atemporais.  


A diáfana pálpebra é incomodada e atrapalha-me em minha alienante absorção. Lembro-me do calor que quase esquecera. E por uma temporalidade lembro-me de coisas esquecidas por motivo nenhum. Um chute num cachorro, dor de língua queimada, leite queimado no fogão, rejeições, corizas inconvenientes, planos mal arquitetados, falhas no cabelo, chamar pelo nome errado, datas esquecidas, viagens; Caminhos. 

6 comentários:

  1. Muito bom, escreve com maestria.
    É bom saber que tudo isso vem de você, sua visão sobre as coisas está cada vez mais interessante.
    Quanta Sapiência.

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  2. Sem palavras...

    Suas palavras atravessam a alma, lucidez traslúcida.

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  3. A opnião de vocês que atravessam a minha alma. Por conhecer vocês e um pouco do de seus gostos fico extasiado com tamanho elogio contido em tão poucas palavras.

    Obrigado!!!

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  4. belas imagens!cine texto.

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  5. ...até mesmo o plano de fundo do teu blog faz semelhança com o nome que escolheu !!
    Gostei!

    F. Teles

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  6. Quando foi que eu te contei tudo isso?? rsrsrs
    Como é bom poder me identificar, me encantar. Me sinto presenteada, dá vontade de repensar de criar... Você criando movimentos...

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O que vier de sua cabeça será bem-vindo....