7.3.16

Abrigo de desconstruções

Os últimos dias têm sido mais largos.
Fronteiras traiçoeiras confundem-me, expandem o que sou, dilatam os meus limites.
Vai cabendo. Vai cabendo.
Até chegar ao ponto d´eu não saber definir-me. Não há como.

Relações de todo o tipo me relativizam
da miséria ao distraído,
do fodido ao desapegado,
do abandonado ao político,
do intrínseco ao estripado,
do artista ao mais-do-mesmo.

Progressos, demolições, processos, opressões, privilégios, privilégios.
Por privilégios. Manutenção.

Projetos sobre o amor, a liberdade, a equidade, são descabidos.
Sem propósitos. Não cabe.
Não cabe agora. Mas Porra! Agora?

Havemos de ser ração
ou querer ser outro e abrir-se para a sensação do descabido.
Pertencer sem ocupar.

Por meios legais e coerentes,
sofremos infindas ofertas de ocupar a nós e desocupar.
Como um ciclo respiratório,
recuperando o fôlego no limite de não suportar.

Por que possuímos reação imediata às palavras? Como:

Ócio. – É preciso mais ócio.
Ganhar. – A disputa do zigoto evoluído.
Nacionalidade. – Respeito às riscas imaginárias, aos costumes, tradições, identidade.

Ao responder para o outro que me pergunta, há um cansaço. Os olhos pesam.
A boca seca por não saber escorrer tantos dias recentes.
Então entrego pouco, quase não falo.  A vista foge para o chão num desinteresse.  
É perseguir horizontes.

Não busco uma melhor compreensão
enquanto recluso ou durante uma conversa.
Não há tempo para isso. Novas pancadas virão.

Dias largos que se aprofundam. Vai cabendo, aumentando.

Por vezes faço do ébrio, do translúcido,
artifício para acariciar o tempo, para ralentá-lo como música, atrasá-lo.
Brinquedo para a alma,
como crianças num parquinho aproveitando os últimos momentos
num terreno em desapropriação.
Um souvenir da inocência. Um deleite em meio ao caos.

Senão
arrasta-me junto com as bordas dos dias, apressado por fazer caber mais. E faz.
Sorte!
Sabe-se lá o que serei se em mim couber mais espaços.


Abrigo de desconstruções.

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