Um rapaz doido. Quase normal (se não fossem os últimos dias). Fazia pouco tempo que havia adquirido a loucura. Por isso ainda era quase doido (ou quase normal).
Adequava-se ao meio-fio capengo, andava com equilíbrio ébrio.
Não se importava para o lado que tombaria,
não se importava nem com a continuidade de seus passo sobre o meio-fio.
Mas cairia,
sobre a loucura ou sobre os pés da normalidade.
Andava; Maneja o corpo contra o vento; Mantinha-se vivamente indeciso.
Formulava frases subjuntivas.
Se caísse para a doidice viveria diariamente o não aceitar da vida,
julgaria a normalidade insana
e seria julgado insano
por julgar insano o que todos afirmam ser normal.
Caiu.
A falta de equilibrio não permitiu o adiamento da queda.
Caiu e deitado permaneceu.
Mergulhou para o lado da loucura. Afundou. Aprofundou-se em seus pensamentos. Todos insanos. Saudavelmente insanos.
Voltou pra casa, despejou o pote de açucar na privada e deu descarga para adoçar os encanamentos. Abriu as portas do guarda-roupa e procurou o que não havia. Encontrou.
Foi ao encontro da parede e abraçou-a sem unir as mãos. Sentiu o abraço gelado, retríbuido.
Ferveu água e botou-a no freezer para calcular o tempo até o congelamento.
Sentou-se agitado,
assou o nariz na barra da calça jeans que usava e despiu-se das roupas, da vergonha.
Ligou a TV e transou com um programa de fofocas, gozou na cara da apresentadora e gargalhou.
Sentiu nojo dela, das notícias quase necessárias. Assim como ele, quase necessário.
Jogou a TV no chão e apalaudiu o curto espetáculo das faíscas. Dançou sobre os cacos de vidro e, com um deles, rasgou uma das mãos. Tingiu as paredes do quarto com o desenho de suas palmas.
Plantou bananeira; Chorou desconsolado; Deu cambalhotas no sofá; Regou as plantas da vizinha; Mijou no retrovisor d'um carro importado estacionado em sua rua;
Chamou a atenção.
Voltou, pegou o violão e compôs a música mais bela que ouvira nos últimos cem anos.
Sorriu completo. Estava batizado.
Sentiu-se um artista. Tornou-se um...
crônica com poesia, adorei o humor, coisa fina
ResponderExcluir...Quase normal
ResponderExcluirShow!!!
tão genial quanto a personagem.
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