- Digo que a vida é simples.
- Como
assim simples?
- Simples, cara. As complicações somos nós que
inventamos.
- Apesar
de todos os mistérios; todas as incertezas; você me diz com essa cara que a vida
é simples?
- Eu acho ela simples. Simples e gostosa.
- Ninguém
está falando de prazer. É óbvio que é gostosa. Só podemos sentir algo se
estivermos vivos. Eu estou falando...
- Mas o ponto é esse! É simples e fácil sentir
prazer. Basta desencanar...
- O que
quero dizer é que há complicações na busca da felicidade. Dependemos de vários
fatores externos, entende?! Dependemos de algumas permissões. Vários momentos são fortuitos. Somos consequências da sorte; do acaso...
- Você é muito pessimista! Não refletir muito a
fundo sobre mim evita conhecer o meu avesso. Isso pode permitir a felicidade. . Continuou:
- Você deveria viver a vida com o que ela lhe oferecer no momento.
- Sua momentânea alegria o faz parecer forte. Meus parabéns!
- Você deveria viver a vida com o que ela lhe oferecer no momento.
- Sua momentânea alegria o faz parecer forte. Meus parabéns!
- Pare de ser dramático Fábio!
- Falo
sério! E se a oferta da vida for realmente pouca?
- Se for pouca você transformará em tudo, pois
o pouco é tudo o que você tem naquele momento.
- Mas
continuará pouco. A lacuna continuará existindo...
- Depende do ponto de vista...
- Ponto
de vista é o caralho! Lá vem você com essa porra de novo!
- Tudo é ponto de vista, meu caro.
- Talvez
seja. Quer saber? No meu ponto de vista o Sr. só consegue se sentir efetivamente
bem se estiver ao lado de quem não está bem. Por mera comparação, sente-se
melhor.
- Você vai me deixar terminar de falar sobre o
ponto de vista?
- Sabe
qual é a merda que você não percebe?! Um ponto de vista é incompleto,
insuficiente. Você não pode definir uma verdade embasado sobre o seu ponto de
vista. E nem que consulte outros!
- Mas se outros concordam com a mesma coisa, pode ser que estejam certos. Certo?
- É
certo que um idiota rodeado de outros idiotas torna-se normal por ter sua
idiotice em harmonia com a idiotice do bando. É certo que não dá pra analisar a
vida feito um quadro de Picasso. A vida não é plana. É preciso considerar o
desconhecido.
- Você pára pra pensar sobre o que não conhece
enquanto há coisas óbvias que passeiam embaixo do seu nariz e você não percebe.
Diga-me: Isso não é complicar as coisas?
- Isso é
tentar considerar o todo.
- Isso é impossível, meu caro.
- É por
isso que desconfio das verdades. É por isso que condeno meus julgamentos. Não
há um só pensamento absoluto que eu não suspeite.
- Você poderia acreditar mais e duvidar menos.
Faria-lhe bem. Escute o que eu te falo amigo: Você caminha no sentido oposto à
felicidade.
- Quem
sabe, futuramente, eu não siga seus passos, hein?
- Você encontrará e fará um caminho próprio.
Assim também poderá ser feliz. Preciso ir embora. A gente se vê por ai...
E
continuaram seus percursos.
Um percebeu que, apesar de não estar certo, não fora
convencido pelos argumentos do amigo.
Não se deparar com a verdade única significava
não poder se definir e, ao mesmo tempo, não desconsiderar a definição alheia.
O outro, pouco depois, trancou-se em casa para reprimir o
choro, afligir-se em silêncio, para lamentar as próprias limitações às
escondidas.
Ambos estavam tristes. Cada um à sua
maneira.
Aceitar... só aceitar permite atenuar esse sentimento de impotência. Não podemos saber tudo, não podemos compreender tudo, não podemos amar tudo, não podemos viver tudo. Só a aceitação permite, se for honesta, caminhar rumo ao que todos procuramos e que tão poucos encontrarão!
ResponderExcluirGostei deste diálogo!
A felicidade pode estar
ResponderExcluirna coragem, no conforto
no reflexo, no avesso
mas principalmente
no ponto de vista...
Excelente Bruno!!!
Quase perfeita a percepção sobre as possibilidades de verdades e desacertos a partir de um ponto vista totalmente bem intencionado, mas perceba que talvez entender facilmente uma obra do Picasso também pode ser um engano.
ResponderExcluirDeixo a pergunta...
O que é a verdade?
Seria talvez a contemplação para uma possível felicidade?
enquanto calibro minha balança de pesares
ResponderExcluir"Definir a aparência real das coisas OU não definir" .
ResponderExcluirNem sempre as coisas são óbvias , depende de como se vê e mesmo assim poderão ser conflituosas . De repente eu falo A e você B , eu enxergo a cor azul e você os nuances do amarelo e verde . O assunto pode ser o mesmo , mas nem sempre as respostas são iguais .
Muito bom o texto!
(Ambos estavam tristes. Cada um à sua maneira).
ResponderExcluirBrilhante Bruno! A conversa entre EGOS!