16.9.11

ATLÂNTIDA

Desapareceu ao mergulhar e nadou na direção de onde nada se via. Esforçou-se para ganhar velocidade, mexendo rapidamente as pernas e os braços, e somente quando não pode mais aguentar a pressão que perturbava seus ouvidos largou o corpo e aguardou o seu retorno. 


Tudo era escuro ao seu redor, nada se definia pelos olhos. Algumas vezes sentiu passar algo entre as pernas, agitou-se assustado pelo desconhecido. Não suportava mais aquela água enlamaçada que o incomodava quando mantinha os olhos abertos e, por isso mesmo, resolveu de olhos fechados criar a sua própria paisagem.


 A temperatura da água o impedia de imaginar-se num local quente. Mas, em alguns momentos, esquecia-se que estava submerso. Avistou objetos sem forma, pessoas disformes e em constante movimento. Corpos dançantes. Uma dança ditada pelo ritmo das águas. A definição de paisagem que sua mente criava era particular daquele mergulho. Uma imagem única e irrepetível.

A falta de ar começava a lhe encher os pulmões. Percebia que seu corpo mal se movia e que perdera totalmente a noção da direção que deveria tomar. Tudo era igual, isótropo. Não ouvia mais nada além de seus gritos abafados e não propagados. Estava preso e sabia que ali estava o seu fim. O corpo lutava desesperadamente pela sobrevivência. Sua mente era somente ação. Não mais refletia sobre os problemas iniciais que o levaram a mergulhar até ali. Seu afogamento tornara-se a prioridade dentre os outros incômodos. Cansou de se debater e parou, por alguns instantes, quase inconsciente.

Percebeu um leve arrastar do seu corpo numa determinada direção. Sem tempo para paciência, aproveitou essa oportunidade concedida pela água e nadou na direção indicada. Enxergou um tímido clarão. O feixe de luz indicava que a superfície não tardaria a chegar. Lutava para fugir do refúgio que ele mesmo descobrira. Mas sentia que já era tarde. Não havia mais ar em seu peito, músculos e mente. Exausto, perdera a noção do tempo; não havia mais tempo!; nem o passar do tempo. Não havia mais problemas e não procurava soluções. Só existia ele, o desespero e o improviso.

Emergiu!

4 comentários:

  1. nossa, quantas vezes me senti assim!
    só espero que minhas entregas não sejam sem volta

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  2. Tão parecido com respirar este ar.


    Muito interessante,
    O estilo que escreve, e como pensa.

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O que vier de sua cabeça será bem-vindo....