Desapareceu ao mergulhar e nadou na direção de onde nada se via. Esforçou-se para ganhar velocidade, mexendo rapidamente as pernas e os braços, e somente quando não pode mais aguentar a pressão que perturbava seus ouvidos largou o corpo e aguardou o seu retorno.
Tudo era escuro ao seu redor, nada se definia pelos olhos. Algumas vezes sentiu passar algo entre as pernas, agitou-se assustado pelo desconhecido. Não suportava mais aquela água enlamaçada que o incomodava quando mantinha os olhos abertos e, por isso mesmo, resolveu de olhos fechados criar a sua própria paisagem.
Tudo era escuro ao seu redor, nada se definia pelos olhos. Algumas vezes sentiu passar algo entre as pernas, agitou-se assustado pelo desconhecido. Não suportava mais aquela água enlamaçada que o incomodava quando mantinha os olhos abertos e, por isso mesmo, resolveu de olhos fechados criar a sua própria paisagem.
A temperatura da água o impedia de imaginar-se num local quente. Mas, em alguns momentos, esquecia-se que estava submerso. Avistou objetos sem forma, pessoas disformes e em constante movimento. Corpos dançantes. Uma dança ditada pelo ritmo das águas. A definição de paisagem que sua mente criava era particular daquele mergulho. Uma imagem única e irrepetível.
A falta de ar começava a lhe encher os pulmões. Percebia que seu corpo mal se movia e que perdera totalmente a noção da direção que deveria tomar. Tudo era igual, isótropo. Não ouvia mais nada além de seus gritos abafados e não propagados. Estava preso e sabia que ali estava o seu fim. O corpo lutava desesperadamente pela sobrevivência. Sua mente era somente ação. Não mais refletia sobre os problemas iniciais que o levaram a mergulhar até ali. Seu afogamento tornara-se a prioridade dentre os outros incômodos. Cansou de se debater e parou, por alguns instantes, quase inconsciente.
Percebeu um leve arrastar do seu corpo numa determinada direção. Sem tempo para paciência, aproveitou essa oportunidade concedida pela água e nadou na direção indicada. Enxergou um tímido clarão. O feixe de luz indicava que a superfície não tardaria a chegar. Lutava para fugir do refúgio que ele mesmo descobrira. Mas sentia que já era tarde. Não havia mais ar em seu peito, músculos e mente. Exausto, perdera a noção do tempo; não havia mais tempo!; nem o passar do tempo. Não havia mais problemas e não procurava soluções. Só existia ele, o desespero e o improviso.
Emergiu!
viajei narrativa
ResponderExcluirAcabei de me afogar em pensamentos.
ResponderExcluirnossa, quantas vezes me senti assim!
ResponderExcluirsó espero que minhas entregas não sejam sem volta
Tão parecido com respirar este ar.
ResponderExcluirMuito interessante,
O estilo que escreve, e como pensa.