25.2.13

Soltamente

I.

Aqueles dias quentes sem refresco já incomodava.
A roupa colada no corpo, 
A cabeça ansiosa para antecipar o destino, 
O corpo caminhando abringando-se nas sombras.

Que calor era aquele que implorava por noite?
Qual a temperatura, que uma vez atingida,  fazia-o esquecer-se dos conflitos,
anuvia-lhe os planos, confundia-lhe as certezas, deixava-o mole? 
Nas ideias, apenas devaneios sobre alívios-corpóreos-imediatos.

Geleiras... estão quão distantes daqui?

Do Sol vinha, sentia vir, 
uma energia carregada de vigor que abriam os poros, 
uma intensidade que afogava o corpo com a própria água. Banhava-nos de nós mesmos.

Os rios; mares; águas; suores dos corpos;
Voavam as águas ao encontro do envolvente, ardente e atraente astro.

No alto o encontro pluvial. Chocavam-se sem impacto. 
Flutuavam discretas e invísiveis. 
Seu vapor pintava a tarde com uma única cor: 
Cinza-sereno

Profecia óbvia;
Já exausta de calor-lançado, despejou com ira a água absorvida,
devolvendo o que não lhe cabia mais. Chuva. 
Chora, ato quase triste pelo desapego. 

Levada pelos ventos. Permitiu por acalento desanuviar o céu.
Por detrás, risonhamente, ressurgia o astro. 

Naturalmente belo, somos natureza. Também
Contribuindo 
e recebendo semelhante parcela.


II.

O dia passa, mudam-se as cores.
Apresenta-se a noite manchando o dia com seu novo azul-claro-escurescendo

Noite clara, negra.
Por ali fica, horas-somada-de-horas que silenciam os corpos.
Com sua aúrea pesada, exige descanso.

Desta vez ele resistiu. Ficou a sós, mudo por respeito;
mudo para contemplá-la. 
Atento. Absorto. Distraído.

Do negro ao roxo. 
De súpeto: está roxo o céu?
De súbito?

Ressurgia o astro que paulatinamente manchava a noite, 
espreguiçando-se a cada raio de sol, 
o infindável ciclo degradê das cores.

Como criança espantada, encantada pela claridade, 
Ele reparava no brilho intenso que surgia, 
no velho astro que se erguia.

De suas retas sinuosas 
sentia a intensidade difusora.

Detendo a vista sobre o Sol, descansou o espírito. 
Por horas a olhá-lo, sem se desviar.

Alterou a mira dos olhos por incômodo,
por cansaço de testa franzida. 

Recebeu a força do clarão redondo.
Percebeu que mesmo sem olhá-lo 
Ali estava ele!

Encontrava-o em todos os lugares em que pairava a vista.
Até de olhos fechados, no escuro, enxergava-o.

Percebeu que o grande astro estava nele. Encrustrado em sua visão.
Era nítida a imagem do pequeno semblante, a redonda silhueta azul estava em tudo quanto era lugar.

A contemplação da grande estrela marcou-lhe a retina da memória.

O Sol se alongava pelo céu, 
sem cauda, sem rastros de seu movimento.

No topo, observando, amadurecendo, aquecendo. Irritava. 

A roupa colava no corpo, 
A cabeça ansiava para antecipar o destino.

Voltou para casa abringando-se nas sombras.

Começou um outro dia belo e sem refresco. Começou incomodado. 

2 comentários:

O que vier de sua cabeça será bem-vindo....