Quero
que o mundo a sinta.
Os
pássaros sabem voar, e o fazem com naturalidade
Repousam
sobre as correntes quentes de ar, deixando-se levar
Experimentam
observar a vida sobre os galhos das árvores
E ali
ficam por um tempo que não se conta
Experimentam
trocar de árvores
e com
extrema sensibilidade percebem a
diferença entre cada uma delas
Essa
diferença é a beleza sentida por eles
A diferença entre tudo
É o que torna o Tudo belo. Misticamente belo.
A diferença entre tudo
É o que torna o Tudo belo. Misticamente belo.
Pássaros são sensíveis
Mas não possuem o domínio dos sentidos.
Pássaros são facilmente apaixonados.
Uma paixão inteligível. Forte.
Sentida em quantidade e em simultâneo.
São apaixonados pelas diferentes sombras
Amam os diferentes feixes de luz entrecortados pelas folhas,
Mas não possuem o domínio dos sentidos.
Pássaros são facilmente apaixonados.
Uma paixão inteligível. Forte.
Sentida em quantidade e em simultâneo.
São apaixonados pelas diferentes sombras
Amam os diferentes feixes de luz entrecortados pelas folhas,
Conseguem perceber os ventos que mudam de acordo com a altura
Reconhecem os variados tipos de madeira em
que se agarram,
se são
lisas, robustas ou descascadas pelo tempo.
O pássaro ama a vida, sem saber que ama.
Cantam para si e para ninguém.
Cantam para si e para ninguém.
Eu aqui sentado, à beira dum lago.
Com
tanto mundo por ai.
Eu aqui
sentado, a beira dum lago.
A
mistura dos cantos, o silêncio das águas
Ouço minha
respiração profunda e calma
Os pássaros
são exuberantes,
Voam à minha frente
Com seu canto, parecem dizer:
Com seu canto, parecem dizer:
“O mundo
não é só este que te toca os pés,
O mundo
é imenso e deve ser conhecido”
Eu aqui
sentado,
Refletindo
sobre as formas de viver
Sobre as
formas de se privar da vida
E por
estar aqui sentado, apenas pensando
Não sei
se vivo, ou se apenas penso
Ou se
penso que vivo
Mas por que me deu vontade de refletir sobre os pássaros?
Ora, sei lá. Pensamentos chegam sem aviso.
Pássaros
são livres.
Estou observando-os com estranha alegria
E neste tempo todo
Não pude identificar o limite que os prendem
Estou observando-os com estranha alegria
E neste tempo todo
Não pude identificar o limite que os prendem
Nós desejamos liberdade parecida, mas a tiramos.
Tiranos tiramos.
Quando
encontramos algo belo, como os pássaros
Desejamos,
com imenso egoísmo, aprisionar esta beleza
Vê-la
todos os dias, senti-la todos os dias
Amamos possessivamente,
Um desejo soberano, injusto e cruel
Um desejo soberano, injusto e cruel
Queremos
voar, mas também prender
Queremos
voar, mas também ser preso
A
beleza, ainda que engaiolada, permanecerá bela.
Mas não do
ponto de vista de dentro da gaiola,
Onde se
vê o mundo de fora idêntico ao que se vivia,
Onde se ouvem
os pássaros com cantos eufóricos e livres
Onde se
percebe as árvores, galhos e sombras.
Onde se
enxerga a vida e encerra-se a própria.
A beleza
está lá, intacta, presa.
Pássaros
são condenados por terem nascidos belos.
Esta é a
sua culpa. Nasceram belos e livres.
Privar
algo belo apenas por querer garantir que esta beleza seja sua
É privar
o mundo de conhecer algo
que reconhecemos como belo
que reconhecemos como belo
É privar
esta beleza
de conhecer outras belezas
de conhecer outras belezas
Queremos
ser únicos... E somos. Esta é a nossa maldição (ou salvação)
Pois queremos
ser completos e completar
Ser
único é ser limitado, pois não possuímos todas as qualidades procuradas
Existem
lacunas
que não
precisam de um preenchimento pleno
Mas uma
vida completa e recheada de todas as satisfações é algo tentador
Como
exigir que um pássaro, belo, vivo, com um canto alegre
Reproduza
tal canto e vivacidade num espaço limitado?
E nem
que esse espaço aumente. O nosso limite deve ser o mundo.
Apesar
da natural vontade (humana) tirana
De
querer reter uma beleza
E querer
ser retido;
Exercito
uma contra-vontade.
Impor-se
como único, é impor limites.
Limites
são gaiolas que consomem vida
Exercito,
mas não posso evitar-me.
Sou
daqueles que possuem gaiola e gasto tempo ornamentando-a.
Mas não
faço dela moradia forçada
Quero
que minha gaiola não limite, deixo-a sempre aberta
Para que
pássaros vejam o mundo de fora e não se sintam fora dele
Quero que minha gaiola nunca se feche,
E mesmo
que as vezes eu finja que perdi a chave,
Deixo-a
escancarada mais cedo ou mais tarde.
A beleza
dos pássaros é a liberdade
Quero
vê-los voando e pousando sempre
Sou
contra a adição de gaiolas.
Sou a
contradição.
Somos criados em cativeiro, não aprendemos sobreviver fora da gaiola, alguns aventuram-se fugir, poucos sobrevivem...
ResponderExcluirum pássaro que te ajuda a desvendar sua própria natureza voadora
ResponderExcluirAcho que preciso tomar uma breja contigo
ResponderExcluirVoo, levantar voo deve ser o momento sem igual para um pássaro, estar em queda e de repente utilizar as asas, e planar...
ResponderExcluirNão temos asas mas levantamos voos, as vezes de encontro com gaiolas... mas são as quedas que nos leva a admiração de um pássaro. Será que só trocamos de prisão? Estamos preso... é fato. nossa consciência nos prende! O despercebido é o mais próximo da liberdade... é algo que a beira de um lago, talvez proporcione. É compreender que tem asas durante a queda.
um canto engaiolado
ResponderExcluirAdmirou-se o poeta com o voo dos pássaros,
ResponderExcluire então, deleitou-se na escrita
para também voar.
Estou a segui-lo.