18.6.20

CUIDADO! ATENÇÃO! SENTIDO!

O sentimento foi dividido e promovido ao campo das ideias.
Mas chegou a tal posto sem comprovação de diploma.
Separado do corpo, trabalha à paisana, passando-se por pensamento.
Não é!

O sentimento é visceral, é sensação.
Ele dá no corpo, dá no peito, 
dá angina, dá azia, dá refluxo. 
Afrouxa as pernas.
Dá consequências físicas.

Como educar o sentir?
Algo tão primitivo, tão profundo e íntimo.
É como tentar reeducar as células para que elas não deem câncer.

O resíduo que o seu corpo deixou no meu corpo
Espreita-me até em casa.

Se tu és constante mudança
Eu amo a pessoa de ontem?

E como posso ser credor do seu afeto
Se não lhe contei o que se passou na penúltima madrugada?

Mas as estrelas, fantasmas cósmicos,
Não são menos contempláveis por serem passado.

Enxergamos a luz de distantes corpos 
que talvez já não existam
e, ainda assim, emocionamo-nos.

A natureza é econômica.
Então, num reflexo irrefletido, repito
fazendo uma reedição dos acordos afetivos 
dos meus pais e seus ancestrais. 

Apostando todo o meu vazio num único ser.
Tornando você uma extensão inseparável de mim.

Sou mamífero desmamado,
rompido, jogado no mundo, 
inseguro, abandonado, 
buscando, sem criatividade, preencher grande buraco.

Viver longe dos palcos,
sem vestir personagens,
faz com que eu me revisite diariamente, sem pausa,
sem rotina que distraia, sem descanso.

Persigo ideal alheio e antigo,
que me foi herdado,
já ultrapassado,
então: 
pra onde eu sigo?
Se o instinto inevitável,
inconsciente, irrefreável,
leva-me as mais sinceras emoções?

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