6.5.21

Chama


Até ontem nos chamávamos de Amor.
Palavra
que mais expressava hábito que sentimento.
Amor usado como substantivo,
nome paliativo,que em público
ganha tonalidades de pronome possessivo.

Amor. Palavra por impulso, sem ato reflexivo.
Resquícios das últimas usuais relações.

Fetiche da carência.
Casamento novo, apelido antigo.
Já tanto usado, renovado,
lavado e enxaguado.
Roupa desgastada. Tecido velho desfiado.

Banalizado. Palavra vazia.

Até ontem nos chamávamos.
Hoje nada.
Hoje não há palavra para nós.
O que era "Mô" virou Silêncio.
Virou.

Agora já não chamo.
Não faço uso dessa palavra.

Já não sou chamada.
Anseio atenta, na madrugada,
tarde vazia noite enrugada
manhãs solitárias
Que venha o próximo rumor
Para que eu o chame de amor
Para dar pendor
à palavra vazia

Amor:
me convença, pois a carência
já antecipa meu perdão
Fale de novo, faça juras em meu colchão
Que o eterno passa rápido demais

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que vier de sua cabeça será bem-vindo....